sábado, 27 de março de 2010

[ a menina, que afinal também e' frágil ]

N. e M. - 2007

a menina sentia'se so' e estava assustada... desde aquele fatídico dia frio de Fevereiro que deixara de frequentar os espaços que os relembravam
vagueou naquela praia que tantos momentos presenciou, e deu por si a caminhar em direcção a casa de N. e M.- a menina sabia que eles não estariam la' para a receber, mas precisava do conforto e aconchego que aquele local lhe trazia.
não sabia o que dizer ou ate' como olhar para aquele espaço que um dia fora a casa deles.
tocou à campainha, ainda que reticente... a sua face mostrava que a menina carregava uma dor maior que a podia suportar.
abriram o portão, ela caminhou relutante olhando em redor ... parou em frente à piscina e por momentos viu os momentos que ali vivera numa época que parecia distante.
sentiu uma mão a tocar'lhe o ombro- a mãe deles
abraçou'a e chorou, a menina falou'lhe do medo e da sua fraqueza. a mãe mostrou'lhe os quartos deles. 
ja' não tinham o cheiro deles, ja' não tinham os objectos deles, com excepção da guitarra de N. e máquina fotográfica de M.
os quartos estavam vazios, tudo havia sido transferido para os anexos, as roupas dadas a pessoas carenciadas e o carro vendido.
na sala, muitas fotos...e no escritório aquela foto que a menina havia tirado na festa em que se conheceram.
entrar nos anexos foi muito complicado, mas a menina deu o passo... no quadro estavam as fotografias das férias, das festas, as caretas e as dedicatórias.
depois de se recompor , a menina pediu à mãe que a acompanhasse à esplanada que sempre iam...e caminharam e a menina chorou, e ouviu os conselhos de alguém que a via como uma filha. e levou'a à nova casa de N. e M., abraçou'a e entregou'lhe uma chave para que ela fosse e chorasse o que fosse necessário ate' se sentir o suficientemente forte para enfrentar o medo. a menina aceitou, foi ... ligou o aquecimento na casa que se encontrava gelada. fez um cha' e foi para o alpendre ver o mar. não conseguiu tomar decisões, mas teve a percepção de que tinha de enfrentar o seu medo... que as perdas que sofrera apenas a tornaram mais fortes e não podia deixar'se abalar assim sem a certeza da perda. a menina chorou muito. ate' ao ponto em que ja' não havia mais lágrimas...o dia começara a nascer e a menina foi'se deitar, convicta de que quando acordasse tudo lhe parecesse mais arrumado.
acordou com o telemóvel a tocar e as boas noticias a chegar. tornou'se mais lúcido, a menina reflectiu sobre o dia anterior e encontrava'se mais calma e consciente de que não era cobarde para desistir.
vestiu'se, tomou o pequeno almoço com o sol acolhedor e caminhou para a sua casa na certeza de que tudo iria ficar bem.

a menina, que toda a gente acha forte revelou a sua maior fragilidade: perder as pessoas que ama, porque um dia... ja' lhe haviam tirado o pai e os amigos.

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